quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Água mole em pedra dura... é a última que morre?! Novo Governo, novos olhares e nova cultura para a Bahia.

Diz o ditado popular que “Quem espera sempre alcança”, mas prefiro dizer que quem espera demais, às vezes cansa, desilude, enfraquece e até morre, principalmente se a questão for a cultura em nosso país, sobretudo, no interior baiano.
Mas se “Água mole em pedra dura tanto bate, até que fura” o ano de 2007 promete ser de transformação cultural na Bahia, aja vista a proposta do novo Governo de Jaques Wagner no Estado, onde a palavra Regionalização Cultural vem seguida de valorização do artista local e popular.
Tivemos, entre dias 18 e 19 do mês de janeiro, a ilustre visita de dois representantes da Secretaria de Cultura do Estado, em nossa cidade, o Professor Hirton Fernandes e o Superintendente Paulo Henrique, ambos, com propostas esclarecedoras a respeito da nova política cultural para a Bahia.
À princípio, matuto como sou, fiquei só observando, desconfiado, pois cansado de guerra e de tantas promessas que nunca se realizam, este artista popular está devoto fervoroso de São Tomé, embora nunca perca a esperança no seu povo, na sua cultura e arte.
Nas duas reuniões, a primeira realizada no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e a outra na Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura, estiveram presentes representantes dos principais segmentos artísticos de Conquista, da Prefeitura e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, entre outras instituições culturais conquistenses.
Durante as reuniões foi unânime, nas falas dos representantes de Salvador, a questão que o Governo do Estado pretende valorizar o artista local e transformar os Centros de Cultura, outrora administrados pela Fundação Cultural do Estado, e espalhados pelo interior, em pólos aglutinadores e incentivadores da cultura local, tornando-os centros de transformação para a sua cidade e cidades circunvizinhas.
A idéia é fabulosa e temos trabalhado por ela desde então.
Mas para que isso aconteça deverá haver em toda a Bahia uma revitalização e crença nos artistas interioranos, que há décadas, são desvalorizados e inferiorizados frente aos artistas e projetos das capitais.
Como não tenho memória curta, fizemos várias destas reuniões em gestões políticas anteriores e nada se conseguiu ou muito pouco.
Em 2005, por exemplo, escrevemos através do MOVAI- Movimento de Valorização do Artista do Interior um Documento durante o Projeto Teatro de Cabo a Rabo que acontecia nas dependências do Teatro Vila Velha, em Salvador, sob a coordenação de Márcio Meireles, hoje Secretário de Cultura do Estado.
Na presença de todos os participantes li um artigo que publiquei, questionando mais ações culturais para o interior e, sobretudo, exigindo respeito e projetos para nós. Na época, a própria Funceb abria seu edital de auxílio a montagens de teatro e dança e os valores para o interior e capital representavam a sua visão sobre o artista do interior, sendo que para o artista da capital o Prêmio era de 48 mil e para o interior 6 mil. Ano passado o Prêmio para a capital foi de 60 mil e para o interior de 8 mil. Dá para acreditar?!
O texto ressoou em uníssono entre todos os artistas interioranos participantes do Teatro de Cabo a Rabo e o transformamos em documento, ao qual foi encaminhado para a Funceb e que relembro algumas destas ações agora:

 Criação de Centros Culturais equipados ou revitalização dos já existentes, em cada cidade, para a utilização dos artistas locais;

 Criação de um Censo Cultural que registre os artistas que estão trabalhando efetivamente em cada região;

 Criação de uma rede de intercâmbio entre os artistas do interior com o próprio interior e com os artistas da capital;

 Criação nos Centros de Cultura, mantidos pela FUNCEB no interior do Estado, de espaços e Projetos de trabalho para os artistas locais, inclusive, menores taxas nas pautas de aluguel das salas e dos próprios teatros para a classe artística local;

 Priorizar no Calendário e Programação dos Centros de Cultura de cada cidade atividades culturais e artísticas, ao invés de eventos de outras naturezas, que acabam por descaracterizar o propósito dos Centros de Cultura em cada cidade;

 Participação dos artistas locais na indicação dos Coordenadores dos Centros de Cultura nas suas Cidades, evitando indicações políticas e fora da área de atuação cultural e artística de cada município;

 Valorizar os artistas interioranos através de um atendimento digno nos Centros de Cultura locais, nos Projetos da FUNCEB, evitando comparações arbitrárias, desiguais e preconceituosas;

 Inclusão dos artistas do interior em editais que visem o incentivo à produção artística do interior;

O documento não pára por ai e está repleto de ações que precisamos!
Entretanto, para que tudo isso saia do papel vai depender da participação dos artistas locais que são os reais responsáveis pela movimentação cultural em suas cidades.

Transformar os Centros de Cultura em espaços aglutinadores e fomentadores da cultura exigirá investimentos e uma coordenação local forte, ligada à classe artística local, não sendo uma indicação política como acontecia no governo anterior.

Nas reuniões em Conquista, os representantes do Governo do Estado foram enfáticos ao afirmarem que o Governo valorizará o artista local e que o cargo do Coordenador do Centro de Cultura não será uma indicação política.
Esperamos que erros cometidos por ouras gestões sejam esquecidos e enterrados e que finalmente dêem ouvidos a quem faz a cultura e arte em cada cidade do interior.
Imagine como é em todas as cidades que possuem Centros de Cultura com coordenadores equivocados e/ou indicados por mero acordo partidário?
Falo assim, pois em dois anos percorri os Centros de Cultura do Interior e a mesma história se repete, seja em Conquista, Valença, Alagoinha, Jequié, ou nas outras cidades com Centros de Cultura em todo o Estado.

Estamos entusiasmados, com esperança de renovação, mas sem tapar o sol com a peneira, com os olhos bem abertos para que o artista local tenha vez e voz, seja realmente valorizado como merece e que os créditos e suor derramados pela cultura regional sejam enfim reconhecidos, não creditados a outrem ou representados por nomeações políticas.
Chega de apropriações indevidas da nossa cultura e arte por estrangeiros ou falsos representantes que só querem levar o mérito das nossas causas e valores, de uma falsa política cultural que nunca funciona! “Quanto vale ou é por quilo?” Salve, Salve Sérgio Bianchi!!
Queremos investimentos, trabalho e parcerias para continuar com o nosso ofício, contribuindo com a nossa comunidade. A nossa peleja já dura muito tempo, todos conhecem nossos problemas e até as soluções, e nós, sabemos do que precisamos!!
Enquanto esse dia não chega e o sol não esfria, continuamos na labuta por dias melhores, por uma cultura e arte transformadoras e destinadas a todos (as)!
“O boi é quem sobe, o carro é que geme.”
Avante, novo dia! Até o Seminário de Cultura em março.


Marcelo Benigno é ator, arte educador, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Vitória da Conquista, licenciando em Teatro pela Ufba, membro do Conselho Fiscal do SATED-BA, catingueiro arretado e guerreiro pela arte no interior baiano.
marcelobenigno@hotmail.com

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