sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

As aulas da ignorância

Essa é a grande falha das escolas, faculdades, universidades e cursos do Brasil. Os professores e gestores são seus principais mentores, eles quem legitimam esse estado de calamidade das salas de aula do Brasil, afinal, compõem seus conselhos e entidades burocráticas.
Para quem não sabe, no Brasil, as aulas nas escolas e universidades são obrigatórias, garantido nas normas de cursos e na LDB. Mas o que nem todos sabem, é que essas aulas são cargas horárias extensas, simplesmente para mostrar números e títulos aos correspondentes oficiais.
Na grande maioria das escolas e universidades brasileiras, as aulas são medíocres, assim como os docentes, que além de terem uma carga horária extensa, de trinta a sessenta horas nas melhores das condições, e que, portanto, não tem condições, físicas nem mentais para construírem uma aula para seus supostos discentes, pelo contrário, reproduzem os seus cadernos de ideias e sugestões ideológicas e conciliatórias com o processo de ensino aprendizagem.
Acontece, que além de cobrarem a obrigatoriedade de algo que nem eles mesmos conseguem cumprir, os professores jogam a responsabilidade das aulas obrigatórias nas costas dos estudantes, quando esses nem são avaliados por isso, logo, mesmo que um estudante participe de aulas obrigatórias, essa participação não será contabilizada na avaliação, já que o mestre para isso terá que cobrar um número X de avaliações, também obrigatórias, e delas e somente delas irão abstrair uma avaliação dos discentes observados.
Mas o que é de verdade o ponto culminante das aulas medíocres dos professores medíocres, e chamo de medíocres todos os professores que percebem o quão são incipientes suas aulas, mas ainda assim concordam em permanecer legitimando esse sistema de aulas obrigatórias e avaliações autoritárias e injustas aos seus discentes, é o fato dessas mesmas aulas tornarem a cada dia os estudantes mais ignorantes.
Sim. Nós perdemos em média, vinte horas em aulas obrigatórias por semana, o que daria mais de trezentas aulas obrigatórias por semestre, além de uma média de quinze avaliações obrigatórias, e umas cinquenta bibliografias para leituras, durante esse mesmo período. Sem essas trezentas aulas obrigatórias, seria mais fácil para conduzirmos nossas leituras e produzirmos o que os crápulas dos professores, chamam de avaliação, mas que na verdade é uma grande máquina de castigar aqueles que não conciliam com as práticas dos professores carniceiros, que nem ao menos leem nossas avaliações.
O que chamo atenção, é que em média os estudantes de graduação tenham uma carga de mais de três mil horas de aulas por curso, e levando em consideração o objetivo destas aulas, estes estudantes de fato só conseguem estudar fora das classes, ou com elas vazias, mas nos últimos dez anos com as expansões da educação superior no Brasil, isto é, colocando cada vez mais estudantes nas salas de aula e isto tudo para conseguir financiamentos internacionais para a educação, quando o objetivo nem são os estudantes ou profissionais da educação, mas simplesmente o abastecimento das malhas corruptíveis do sistema educacional do Brasil. E fica cada vez mais difícil conseguir estudar numa universidade no Brasil, e olha que mesmo com a expansão não conseguiram aumentar os nossos acervos nem nossas salas de aulas na mesma proporção. E ainda ouvimos por aí que nossas universidades não são públicas. Ou me desculpe senhores gestores, mais todos vocês estão no crivo público, e não são inquestionáveis, são servidores públicos, e devem responder como tal.
As aulas obrigatórias geram um sentimento de estranheza entre os presentes, que só estão de corpo presente, e para cumprir a lógica da presença, o que alguns professores flexíveis, não cobram, mas no geral os estatutos e normas de curso exigem, como uma ordem de cima para baixo. Mas esses mesmos estudantes de corpo presente, por não terem um compromisso com a construção da aula, não se identificam com as falas dos professores, e não dão a mínima para esses medíocres, e assim permanecem em seus assentos, quietos, nas melhores das situações, outrora saem e entram, e clicam em seus celulares, atendem e enviam torpedo, além das conversas paralelas e as mais diversas situações que possamos imaginar em um circo ou parque de diversões, mas o que menos parece esses encontros são aulas para auxiliarem os nossos estudos.
O que não é compreensível é a tentativa oportunista dos professores de manter essa grande farsa, que pelo contrário, só desanima e diminui nossos estímulos para estudar, nos omite a autonomia para decidir por momentos de estudo, e acima de tudo, bestializa as classes, criando um método que se reproduz nas salas e tornam os estudantes do ensino médio à pós-graduação, cada vez menos ciente de suas potencialidades e possibilidades para explorar os campos dos saberes.
Todo o sistema está corrompido, os professores faltam, os alunos faltam, os gestores não se incomodam, e todos corroboram, inclusive os estudantes, para a legitimação e reprodução desse status dos professores medíocres e dos discentes pedintes, miseráveis de autonomia e discernimento crítico. Não sabemos de fato por que motivo os professores ainda continuam reproduzindo esse processo torturante, mas o que podemos perceber é que os que são alimentados diretamente por esse sistema de marginalização da classe discente, são os docentes e gestores, majoritários nos conselhos nacionais de educação, universitários, escolares, e que ditam a bola da vez, e assim continuam reclamando de suas aposentadorias.
Robson Ferraz
Estudante do curso de Licenciatura em História da UFPI/Picos