sexta-feira, 1 de abril de 2016

Hoje não temos mais comícios


Robson Almeida



AS manifestações públicas de então nos faz lembrar dos comícios de antes. Não que elas tenham tudo em comum com os comícios. O que não faz delas atos partidários. Os partidos cresceram no Brasil. Ganharam uma forma que eles mesmos não dimensionaram. As pessoas que tem partido hoje, não são do PCdoB, do PSTU, do PV, da REDE, ou qual quer agremiação. Hoje as pessoas longe das práticas partidárias institucionalizadas, defendem independência de qualquer filiação oficial, elas se partidarizam com um “coração partido”.

Vou explicar melhor. As práticas partidárias hoje demonstram um antagonismo mais voltado para polarismos. Se são blocos, sabemos, isso é explícito e fica mais explícitos na atual conjuntura. Blocos contra e a favor do impedimento da presidente da República se manifestam e buscam ainda mais apoio seja entre os que defendem a abstenção, ou entre os que estão atrás de cargos de confiança (para não dizer que acabam contribuindo para a crise porque ganham muito com ela).

Hoje no Brasil temos dois partidos. O partido da população que luta contra a marginalização do negro, contra a militarização da polícia, contra o grande latifúndio e suas políticas agroindustriais de envenenamento da terra. O partido que lutamos contra é o partido das práticas xenofóbicas, o partido que criminaliza o aborto e burocratiza os meios de atendimento a mulheres violentadas. O partido que lutamos contra, é o partido de discursos misóginos, homofóbico, racista. O partido que lutamos contra no Brasil é o partido falido que não aceita que faliu.

 

Quando o antigo regime faliu no século XIX na Europa, os velhos aristocratas burocratas, tentando defender a unhas e dentes os poderes que herdaram e as supostas propriedades que garantiram na administração dos latifúndios, motivaram duas grandes guerras, e perderam. No Brasil quando se fala em guerra civil, as massas tachadas de ignorantes e apolíticas, é que são mais atentas a esses movimentos e mais politizadas. E percebendo que guerras são um jogo onde se perde vidas e ganham-se migalhas, não se filiam em partidos armados, isso fica para os jovens mais utópicos, minoria.

No Brasil a guerra é política. E como já disse e defendo, as massas politizadas, assumem um papel que torna-se o mais significativo nessas circunstâncias. Observar. Observar. Vigiar e observar. Isso é o que a massa faz, e não me desfilio dela. Como já disse. A massa é politizada. O partido dela é contra toda forma de preconceito e discriminação. A massa é politizada. A massa não lê jornais ou livros de biblioteca, ela lê semblantes. Ela lê espírito. A massa lê a oralidade, o senso comum, as estações através das nuvens. A massa sabe o que acontece, quando acontece. A massa não é absoluta, nem autoritária. Ela aguarda que os oportunistas tomem seus lugares, e depois disso as massas tomam o lugar que o universo as reservou. Esse lugar é dela por natureza.