quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Poesias

Independência do Brasil
 
no Brasil,
meio dia.
dia de independência.
desfilamos
a troco de nada
nas ruas vazias...
vazias e cheias
de hipocrisia.
o samba,
nasce por aqui,

da irreverencia desse povo
de sorriso novo
e velhos ritos.
os velhos riem
do alto
em palanques
distantes,
candidatando-se
ao cargo
do ano.
quatro anos.
por tanto,
a troco de nada,
os elegemos
para seus carros
blindados
pela legitimidade
democrática.
na verdade,
se é que ainda
existe verdade,
enganamo-nos
de quatro
em quatro
anos.
e mansos,
calados,
legitimamos
a cada cerimônia,
o quão somos
cegos,
surdos e mudos,
ainda que
ouçamos, cantamos
e testemunhamos
todos os anos
o dia
da independência,
tão proclamada,
ainda que não
sentida,
vivida.
afinal,
quanto tempo
durará,
tão dolorosa
dúvida.
Permitam-me,
mas,
enquanto
o povo,
de fato
não gritar juntos
seu grito de independência,
morreremos assim,
expatriados
em nossa própria terra,
calados
em nosso próprio grito,
fuzilados
com nossos próprios fuzis.
diga-me homens,
até quado durará...?
meio dia e meia...
dia de independência.
Maria Mecanizada



A morte,
Essa sensação violenta,
Que nem sei lá se é sensação
Ou Dessensação,
Ainda assim violenta,
Reparte as feridas contidas
E esmigalham os corações
Dos sobreviventes,
Ainda que numa semana,
Numa década,
Ou em um século
Os mesmos se curem,
A grande morte dos humanos
É certa,
Ainda que chegue inesperadamente,
Assim como a vida,
Ela não é infinita...
Poupe-me os padres
E a Roma Contemporânea
Com suas histórias sobre o céu.
Afinal, a morte certa,
Certeza de quem vive.
Não despreza,
Não acusa,
E nunca deixa de vir.
Só não podemos fazer da morte
Uma arma dos vivos
Afinal,
Já não temos muito tempo,
A vida é corrida longa
E não adianta correr mais rápido
Ou lentamente,
A hora da chegada
É mais que certa
É imprevisível
E desconhecida.
“quem souber um caminho,
De rocha,
Me aponte”.

Maria Mecanizada


Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não astava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


Mário Quintana



BRASI CABOCO


O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!


É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro...
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!


Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão...
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição.


Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado...
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado


Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi nacioná!


É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada,
dos samba, dos vialejo,
zabumba e caracaxá!


É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero,
do arranco das boiada
nos fechado ou tabulero!


É o Brasi das caboca
qui tem os óio feiticero,
qui tem a boca incarnada,
como fruta de cardoro
quando ela nasce alejada!


É o Brasi das promessa
nas noite de São João!
dos carro de boi cantano
pela boca dos cocão.


É o Brasi das caboca
qui cum sabença gunverna,
vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!


Brasi das briga de galo!
do jogo de “sôco-tôco”!
É o Brasi dos caboco
amansadô de cavalo!
É o Brasi dos cantadô,
desses caboco afamado,
qui nos verso improvisado,
sirrindo, cantáro o amô;
cantando choraro as mágua:
Brasi de Pelino Guedes,
de Inácio da Catingueira,
de Umbelino do Texera
e Romano de Mãe-d’água!


É o Brasi das caboca,
qui de noite se dibruça,
machucando o peito virge
no batente das jinela...
Vendo, os caboco pachola
qui geme, chora e soluça
nas cordas de uma viola,
ruendo paxão pru ela!


É esse o Brasi caboco.
Um Brasi bem brasilero,
sem mistura de instrangêro
Um Brasía nacioná!


Brasi, qui foi, eu tô certo
argum dia discuberto,
pru Pêdo Arves Cabrá

Zé da Luz




Minha tristeza é tola,
quanto mais dói, mais é tola...
Sou timidamente triste.
Porque a alegria,
ah, essa voa!
E só de brincadeira e bicicleta,
eu sei voar...

Dani Lisboa


MARÉ

Oro,
E até mesmo choro.
Não um choro roco de se temer
Não lágrimas de sangue
De quem não sabe perder.
Lágrimas doces, apesar de salgadas,
De quem soube ganhar.
Memórias sóbrias
Às vezes até mesmo ébrias
De quem lhe tomou a amar.

Parte,
E leva contigo essa parte que não fica
Essa arte que transpões,
Todo esse clarão que lhe segue

E fica!
Por onde teus pés andaram...
Onde gargalham os anjos de saudades,
E fica...
Onde suas palavras ecoaram.

Vai!
Vai ver se tua casa é bonita,
Se há rosas, janelas e tulipas!
Se há doces, amigos e andorinhas...

E deixa...
Deixa que o amor da gente
Invada-lhe quando puder
Que esse choro raro,
Essa prece à claro
Vá guiar-lhe onde estiver...
Pois saudade é grande...
Mas o caminho é a maré!

Maria Mecanizada
(Para o Caio)



METADE


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

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